RESENHA | A Guerra Que Me Ensinou A Viver – Kimberly Brubaker Bradley

em 1 de setembro de 2018

Livro: A Guerra Que Me Ensinou A Viver
Autora: Kimberly Brubaker Bradley
Tradução: Marianna Serra
Editora: DarkSide
Páginas: 280
Após uma infância de maus-tratos, Ada finalmente recebe o cuidado que merece ao ter seu pé operado. Enquanto tenta se ajustar à sua nova realidade e superar os traumas do passado, ela se muda com Jamie, lady Thorton e Susan — agora sua guardiã legal — para um chalé em busca de um recomeço.
Com a guerra se intensificando lá fora, as adversidades batem à porta: o racionamento de alimentos é uma preocupante realidade, e os sacrifícios que todos devem fazer em nome do confronto partem corações e deixam cicatrizes. Outra questão é a chegada de Ruth, uma garota judia e alemã, que gera uma comoção no chalé. Seria ela uma espiã disfarçada? Ou uma aliada em meio à calamidade?
Mais uma vez, Kimberly Brubaker Bradley conquista com sua narrativa carregada de sensibilidade. Seu registro historicamente preciso revela o conflito armado pela perspectiva de uma criança, além de lançar luz sobre a atual crise de refugiados, a maior desde a guerra de Hitler, que já obrigou milhões de pessoas a deixarem seus lares em busca de paz.
Discutindo assuntos delicados com ternura, a autora guia o leitor por uma jornada que mostra a beleza dos pequenos gestos. E, ao revelar as camadas de seus personagens, apresenta uma história sobre amadurecimento e aceitação — principalmente para Ada, que precisa aprender a acreditar. Acreditar em sua família e em si mesma.
Na resiliência que vem da dor. Na superação que vem do medo. Na empatia, que reacende a humanidade. E no amor, é claro. Em sua forma mais pura e sincera.
Ada teve uma infância triste e dolorosa. Com uma mãe incapaz de amá-la, os maus-tratos que sofreu são incontáveis e chocantes. Ada não entendia como podia causar tanta raiva e nojo em uma pessoa que devia amá-la, mas de alguma forma era culpada. Pelo menos era o que pensava. No entanto, agora havia Susan, uma mulher que mesmo não tendo seu sangue, lhe dizia amar. Uma mulher que cuidava dela. Que era carinhosa. Uma mulher que mesmo não sendo sua mãe, a amava.
Duas pessoas tão diferentes e mesmo entendendo o quanto a Susan era importante em sua vida e desejando viver com ela, Ada não sabe e não consegue lidar com o amor que recebe. É difícil acreditar. Nunca foi merecedora de amor e agora estava ali, sendo amada incondicionalmente. Era realmente impossível de acreditar.
Mas Ada sabia que era melhor do que morar com a mãe, que a trancava em um armário com baratas, que nunca permitiu que ela fosse operada só para vê-la se rastejando. Sim, com certeza era melhor com a Susan. Mas até quando? E se Susan desistisse? E se eles fossem levados? Tudo era possível em meio aos destroços que a 2ª Guerra Mundial deixava a cada dia.
Meses depois da resenha de A Guerra Que Salvou A Minha Vida, finalmente consegui ler e trazer para vocês a resenha da continuação desta história e como da primeira, nada do que eu escrever vai conseguir representar tudo que A Guerra Que Me Ensinou A Viver é. Realmente impossível porque se no início a autora destruiu os nossos corações e foi o reconstruindo pedacinho por pedacinho, neste ela nos mostrou que ainda existem cicatrizes abertas e que se elas não forem curadas, nosso coração vai ser destruído novamente.
"É possível saber um monte de coisas e mesmo assim não acreditar em nenhuma delas."
Temos muitas coisas para comentar deste livro, mas o mais importante é: A autora consegue continuar bem a história, com todos os seus personagens ainda em desenvolvimento e mesmo assim, ela nos entrega mais. Ela não se deixa cair na mesmice e nos prova que o seu segundo pode sim ser tão bom quanto o primeiro.
Ada cresceu e melhorou muito. Ela finalmente realizou a cirurgia no seu pé. Ela finalmente está segura com Susan. Mas, infelizmente, não totalmente. Ninguém que foi tão machucado, física e emocionalmente, consegue simplesmente continuar como se a partir daquele ponto tudo fosse perfeito. Ada tem problemas. Tem medos, inseguranças e, tristemente, ainda não consegue acreditar em nada, não importa o quanto você diga. Isso foi o que mais me emocionou durante a história toda porque a escritora soube trabalhar com toda a carga emocional que a sua personagem trazia e lidou de forma real com tudo, mostrando estas cicatrizes que estão, profundamente, a aterrorizando.
"O Jamie e eu também éramos náufragos, mas no fim das contas não tínhamos sido resgatados. Não tínhamos chegado a uma ilha. Ainda lutávamos para não nos afogarmos no mar abalado pela tormenta." 
Mesmo que Ada seja uma grande protagonista, a autora ainda consegue ter personagens coadjuvantes intrigantes e que se desenvolvem muito bem, isto graças as suas personalidades porque mesmo sendo coadjuvantes, é visível que a autora trabalhou todos os personagens de forma dedicada e atenciosa. A Susan ainda me faz sorrir, como se eu fosse a Ada e estivesse recebendo todo aquele amor. O Jamie realmente se divertindo e sendo uma criança como sempre deveria ter sido. Lady Thorton se desenvolvendo ainda mais, mostrando outros lados seus.
No entanto, precisamos conversar sobre uma personagem nova. Uma personagem que mesmo não roubando o espaço da protagonista, conseguiu se destacar na história, mostrando outros lados e nos mostrando que mesmo que o surgimento da Guerra tenha sido bom para a Ada, afinal ela foi afastada da mãe, esta Guerra é ruim. É péssima. Hitler está destruindo todo um povo, todo um mundo só por raça e situação política. Ruth é uma garota judia e alemã que morará com eles, pois Susan dará aulas a ela. Talvez seja uma espiã, é claro, mas não resta dúvidas de que Ruth teve a sua vida destruída justamente pela Guerra.
"'Mas você também tem outras cicatrizes, não tem?' A Maggie rolou o corpo de costas. Vi que ela agarrava a beirada dos lençóis. 'Todo mundo tem. Invisíveis'" 
Trazer uma continuação para uma história que teve um primeiro livro tão bom é arriscado. Mesmo que talvez merecesse a continuação, a autora poderia ter terminado no primeiro e deixado com que a imaginação do leitor imaginasse o que seria a partir dali. Porém, não foi isto que ela fez e agradeço muito por esta decisão. Não importa o que brilhante fosse a nossa imaginação, nunca iríamos conseguir imaginar esta continuação para a história. Para a Ada. Sem esta continuação, não teríamos entendido de verdade a sua dor.
"Eu não diria à Susan que a amava, mesmo achando que fosse verdade. As palavras podiam ser tão perigosas e destrutivas quanto bombas."
Mesmo com temas tão delicados, a autora consegue trazer a dor da realidade, já que ela trabalha de forma verdadeira com tudo, todavia, ela consegue ser sútil, consegue pegar na mão do leitor e ir mostrando aquela história que é triste, mas que pode ser feliz, basta se permitir. Se permitir ser parte daquilo. Se permitir por seus sentimentos para fora. Se permitir acreditar. Mesmo que seja difícil, mesmo que seu passado pese nas suas costas, o futuro está com a mão estendida para a nossa protagonista, ela precisa passar por cima das suas cicatrizes e pegar na mão deste futuro. Talvez sempre vá doer, talvez sempre vá sentir o peso daquele passado, mas se Ada se permitir acreditar, vai ter momentos bons para contrapor todo o seu passado.
"'Talvez todos nos tornemos versões melhores de nós mesmos depois da morte. Talvez todos alcancemos o céu, no fim das contas.'"
Mesmo que Ada tenha tido uma vida mais difícil que a da maioria das pessoas e que ela tenha dores e medos que muitos não entendam, A Guerra Que Me Ensinou A Viver vem para ensinar para a protagonista e para o leitor que todos tem medos, inseguranças e todos estão lutando sua própria batalhas. Todos tem suas confusões. Às vezes só não sabemos disto, porque só vemos o que tem por fora.
"Eu sabia do que ele estava falando. De alguma forma, saber que ainda há pastos verdes e crianças cheias de coragem gargalhando neles, mesmo no meio desta guerra, faz um homem se sentir melhor."
A Guerra Que Me Ensinou A Viver me levou à todos os meus ápices. Me fez sorrir em momentos que não esperei sorrir. Me fez chorar, como se as dores desta história fossem realmente palpáveis. Me fez acreditar que mesmo com um passado doloroso, é possível ter um futuro bonito, isto quando aceitamos o amor que está tentando nos abraçar. Este livro, assim como o primeiro traz a dor da tragédia que é infância de uma criança, mas traz também a esperança do quão melhor pode ser o futuro desta menina que está crescendo a cada dia, se tornando cada vez mais forte, mesmo que ainda não saiba.
"'Nós duas sobreviveríamos. Estamos sobrevivendo agora.'
Depois de uma longa pausa, tornei a rir. 'Estamos fazendo mais que isso', concluí. 'Acho que vencemos.'" 

7 comentários:

  1. Eu sou louca para ler o primeiro livro, já que amo narrativas que trazem as grandes guerras e também crianças. Fora que o enredo parece ser incrível! Agora eu fico muito apaixonada pelos livros da Darkside e essas edições lindíssimas que eles trazem! Os Delírios Literários de Lex

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  2. Oi, Gabs
    Eu sempre tive problemas em ler histórias que falassem sobre a Segunda Guerra Mundial, isso porque a impressão que eu tenho é que a obra se torna mais pesada de alguma forma. Mas eu vejo que A guerra que me ensinou a viver não tem tanto isso. É importante falar sobre o pano de fundo, mas o vital é mostrar o desenvolvimento dos personagens. Com toda certeza vou ler assim que possível.
    Beijo
    http://www.suddenlythings.com/

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  3. Oie,
    Adorei a resenha. E realmente, quando se é tão machucado física e emocionalmente é difícil confiar e se abrir. Sua resenha é muito completa.
    Não sei porque, mas lendo a resenha, me lembrou bastante A menina que roubava livros, não sei se pelo cenário (provavelmente) ou pela carga emocional escondida.
    Beeijoo!!

    Grazy Carneiro
    Meus Antídotos

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  4. Oi Gabi,
    Tenho uma amiga que leu esse livro e me recomendou muito.
    A história parece sensível, mas ao mesmo tempo forte...
    E essa edição está maravilhosa!
    Beijos
    http://estante-da-ale.blogspot.com/

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  5. Olá, Gabi.
    Antes de mais nada que resenha linda. Deu para sentir os seus sentimentos transbordando dela e vindo para dentro de mim. Eu confesso que não sabia dessa continuação e que bom que a autora arriscou continuar uma história maravilhosa e deu muito certo. Não li nenhum dos dois ainda, mas vou querer ler com certeza.

    Prefácio

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  6. Oi Gabi tudo bem?
    Sou fã de histórias com temáticas da Segunda Guerra Mundial, porém ainda não li nada da autora, esse e o primeiro estão na minha lista de desejados.
    Beijos

    Divagando Palavras
    www.divagandopalavras.com

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  7. Oi Gabi, tudo bem?
    Obrigada pela visita ao Revelando :D
    Eu já tinha meio que desistido dos livros da Dark quando eles publicaram "A guerra" então deixei toda informação meio de lado, mas lendo sua resenha e percebendo o quanto a história de Ada e Susan te impactou me fez querer dar uma nova chance. O primeiro quote sobre não acreditar nas coisas mexeu muito comigo porque me identifico.

    Abraços,
    Jess
    www.revelandosentimentos.com.br

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