RESENHA | Em Algum Lugar Nas Estrelas – Clare Vanderpool

em 16 de outubro de 2018

Livro: Em Algum Lugar Nas Estrelas
Autora: Clare Vanderpool
Tradução: Débora Isidoro
Editora: DarkSide
Páginas: 288
Em Algum Lugar nas Estrelas, da autora norte-americana Clare Vanderpool, é um romance intenso sobre a difícil arte de crescer em um mundo que nem sempre parece satisfeito com a nossa presença. Pelo menos é desse jeito que as coisas têm acontecido para Jack Baker. A Segunda Guerra Mundial estava no fim, mas ele não tinha motivos para comemorar. Sua mãe morreu e seu pai... bem, seu pai nunca demonstrou se preocupar muito com o filho. Jack é então levado para um internato no Maine (o mesmo estado onde vivem Stephen King e boa parte de seus personagens). O colégio militar, o oceano que ele nunca tinha visto, a indiferença dos outros alunos: tudo aquilo faz Jack se sentir pequeno. Até ele conhecer o enigmático Early Auden. Early, um nome que poderia ser traduzido como precoce, é uma descrição muito adequada para um prodígio como ele, que decifra casas decimais do número Pi como se lesse uma odisseia. Mas, por trás de sua genialidade, há uma enorme dificuldade de se relacionar com o mundo e de lidar com seus sentimentos e com as pessoas ao seu redor. Quando chegam as festas de fim de ano, a escola fica vazia. Todos os alunos voltam para casa, para celebrar com suas famílias. Todos, menos Jack e Early. Os dois aproveitam a solidão involuntária e partem em uma jornada ao encontro do lendário Urso Apalache. Nessa grande aventura, vão encontrar piratas, seres fantásticos e até, quem sabe, uma maneira de trazer os mortos de volta – ainda que talvez do que Jack mais precise seja aprender a deixá-los em paz.
A Segunda Guerra Mundial está chegando ao fim e isso é motivo suficiente para todos comemorarem, mas não para Jack Baker. Mesmo entendendo o quão difícil foi a Guerra e o quão maravilhoso era o seu fim, Jack não sente ter motivos para ficar feliz, pois sua vida não está em momentos para comemoração. Sua mãe morreu e agora tem que ficar com seu pai, um homem que ele nem consegue entender, pois esteve longe por muito tempo, na Guerra. Porém, para piorar, ele é levado para um internato no Maine e deixando tudo para trás, ele se sente perdido naquela escola que lhe parece um mundo novo.
Um mundo novo e nada amistoso. Além das grandes diferenças, a própria indiferença dos alunos faz Jack se perder cada vez mais naquele lugar, até conhecer o diferente e talvez possamos dizer, estranho, Early Auden. Um garoto pequeno e que parece não fazer parte daquilo tudo. Um garoto que ninguém se preocupa em entender como é, pois é mais fácil deixá-lo de lado. Um garoto que vê o mundo e os números de uma forma totalmente diferente. Um garoto com quem Jack vai viver a maior aventura da sua vida.
Eu estava com as expectativas altas por um livro que desejei por muito tempo. Em Lugar Nas Estrelas é um livro lindo por fora, literalmente, mas talvez as minhas próprias expectativas me fizeram enxergar detalhes que incomodam. No entanto, mesmo com esses detalhes, este livro consegue se encerrar como uma leitura boa.
"Então percebi meu próprio reflexo no vidro. Meu rosto era diferente. Não só por ser mais jovem. Não só porque não sorria. Mas porque o verão passado me ensinou uma lição que, pelo que eu via, o capitão da equipe ainda não havia aprendido: a vida não cabe em uma taça, e nada dura para sempre."
Nós temos dois protagonistas nesta história e é deles que devemos falar, pois mesmo que os outros personagens possam estar diretamente ligados aos protagonistas, eles não ganham destaques dentro da história.
Jack narra a história para nós e parece ser o principal, porém, mesmo que continue sendo um dos principais, ele perde espaço na própria história. Jack é um personagem que tem muitos problemas, que você vê que precisa de ajuda para ter uma relação com o pai, se livrar da culpa que sente por não ter estado ao lado da mãe nos últimos momentos e, por mais que a história queira nos dizer que é aquela aventura com Early que vai ajudá-lo, falta. Falta trabalhar mais, desenvolver mais para que pareça mais real. 
O Early mesmo que não narre a história é o que vai nos conduzir por ela e ele é tudo o que este livro representa. Naquela época, Early era chamado de estranho, maluco ou até louco, mas hoje, com o desenvolvimento das áreas de medicina, saberíamos que ele teria a Síndrome de Asperger, que se enquadra dentro do espectro autista. É muito interessante para a história, a autora trabalhar com um personagem assim em uma época em que nem se imaginava o que ele tinha, entretanto, ela se aprofunda demais em características deste personagem que não permitem que o leitor se identifique ou tenha empatia por ele.
"Contudo, ele partiu. Afinal, não estava procurando um novo lar. Era um viajante. Um navegador. Alguém que segue traçando um curso e procurando o caminho. E ele ainda procurava seu caminho."
Falei destes dois protagonistas, mas aqui neste livro, sabemos que o número de PI, é um personagem extremamente importante, já que Early consegue ver histórias dentro deste número infinito e que deixam todos fascinados.

Eu levantei pontos positivos e negativos dos personagens porque depois que acabei de ler, vi que muita gente é apaixonada pela história e mesma que eu tenha gostado, não fluiu tão bem assim e o problema estava nos personagens. Uma história que basicamente é inteira só sobre estes dois personagens, deixando muito evidente que um está sempre certo, enquanto outro precisa sempre repensar, e isto foi o que verdadeiramente me incomodou.
"Lembrava a sensação de estar perdido, incapaz de determinar em que direção seguir. Olhar pela janela era como encarar um oceano profundo, escuro, e eu me imaginei flutuando, boiando à deriva sob um céu sem estrelas."
As divulgações do livro venderam o personagens Early com referencias a outros personagens famosos que se enquadram no mesmo quadro, como o Sheldon Cooper de The Big Bang Theory. Sabemos que a nossa sociedade é intolerante e que Early não se sente parte daquele mundo, todavia a autora trabalha tanto querendo mostrar que o mundo precisa ver o quão certo Early é, que ela esquece de trazer a humanidade do personagem. Como Sheldon Cooper, Early é extremamente inteligente, só que mesmo assim, na série The Big Bang Theory, a gente vê que, claro, o mundo precisa aceitar o diferente, mas o Sheldon também tem que aprender a ouvir os outros e saber que nem tudo é do seu jeito. Mesmo tentando, a autora falha com o personagem Early porque tudo que ele afirma está certo, então no fim ele mesmo não aprende nada.
"Em algum momento, aquilo de que ele fogem os persegue até não haver mais para onde fugir."
É uma jornada que mistura fantasia com a realidade e então podemos dizer que é um livro fantasioso. Porém, se é uma jornada para duas pessoas, as duas precisariam aprender algo, mas como Early está sempre certo, no fim temos só o Jack aprendendo algo, aceitando que Early sempre estará certo e isso incomoda na leitura, porque se torna previsível.
"Eu tinha certeza de que ele havia tentado jogar seus problemas no rio, mas as coisas estavam tão presas dentro dele que não conseguiam se liberar."
Tem momentos que até podem emocionar e é bonito de ver que Early estava com a razão sobre algo tão importante para si, mas bater na mesma tecla, querendo fazer todos amarem aquele menino porque ele é perfeito da sua maneira estranha, incomoda. Se nas grandes séries de televisão, a gente tem personagens dentro do espectro autista que agradaram tanto ao público é porque mesmo sendo inteligentes, mesmo com suas excentricidades, eles são humanos. Nem sempre estão certos e podem sofrer por isso e aí é importante que as outras pessoas estejam ao seu lado, não porque ele é brilhante, mas porque mesmo sendo diferente, é humano. Foi isso o que faltou para mim nesta história. 
"Pi entendia a necessidade de se apegar. De não abrir mão da própria dor. Ela havia se tornado parte dele. Quem seria sem essa dor? A ideia o amedrontava."

6 comentários:

  1. Oiii Gabi

    As expectativas são sempre complicadas, a gente às vezes espera tanto por uma leitura e quando a chega a hora não era bem aquilo, pelo menos fico feliz em saber que foi uma boa leitura embora vc ainda tenha tido todos esses entraves em conectar com os personagens. Realmente a edição desse livro é linda demais, todos os livros da Darkside dão vontade de ler desde que a gente olha essas edições super caprichadas deles.

    Beijos

    www.derepentenoultimolivro.com

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  2. Eu fiquei bem satisfeita com a história e não me senti incomodada com os personagens. Ainda mais pelo tema que estava sendo abordado. Porém te compreendo, é horrível a sensação da leitura não corresponder nossas expectativas, né? =/ Agora quero ler o outo livro a autora que tbm foi publicado pela editora Darkside.

    Beijos
    Sai da Minha Lente

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  3. Ai meu coração aperta quando a historia não corresponde, mas eu amei a resenha e a historia também.

    http://dosedeestrela.blogspot.com/

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  4. Oi Gabi!! Que pena que o livro não foi tão bom assim pra vc, eu li muitas resenhas positivas da obra, até estava com boas expectativas. Entendo seu ponto de vista e adorei a resenha!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  5. Oi, Gabs
    Eu acho essa capa fantástica mas é um dos medos que tenho. Não posso me deixar deslumbrar pela capa se o enredo não me apetece. Eu provavelmente não leria, isso porque eu não gosto de histórias que se passam na segunda guerra, então eu fico meio que me restringindo a não ler nada nesse período.
    Beijo
    http://www.capitulotreze.com.br/

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  6. Oi Gabs, os livros da Darkside são lindos, esse azul da capa me deixa doida para te-lo na minha estante. Então, já faz um tempo que quero ler esse livro, mas eu sempre passo os romances na frente e nunca consegui comprar. Mas, não sei se conseguiria entender o que a história quer me passar, como você disse que não fluiu tão bem, eu acho que pode acontecer comigo, então quero ler na hora certa e sei que agora não é, rsrsr.

    Obrigada pela resenha!
    Lídia
    https://www.depoisdaleitura.com.br/

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