RESENHA | Dias de Despedida – Jeff Zentner

em 23 de julho de 2018

Livro: Dias de Despedida
Autor: Jeff Zentner
Tradutor: Guilherme Miranda
Editora: Seguinte
Páginas: 392
"Cadê vocês? Me respondam."
Essa foi a última mensagem que Carver mandou para seus melhores amigos, Mars, Eli e Blake. Logo em seguida os três sofreram um acidente de carro fatal. Agora, o garoto não consegue parar de se culpar pelo que aconteceu e, para piorar, um juiz poderoso está empenhado em abrir uma investigação criminal contra ele.
Mas Carver tem alguns aliados: a namorada de Eli, sua única amiga na escola; o dr. Mendez, seu terapeuta; e a avó de Blake, que pede a sua ajuda para organizar um “dia de despedida” para compartilharem lembranças do neto.
Quando as outras famílias decidem que também querem um dia de despedida, Carver não tem certeza de suas intenções. Será que eles serão capazes de ficar em paz com suas perdas? Ou esses dias de despedida só vão deixar Carver mais perto de um colapso — ou, pior, da prisão?
Carver quer ser escritor, porém, o que ele não sabia, é que duas frases sua causaria tanto impacto. "Cade vocês? Me respondam.", foi justamente estas duas frases, ditas em uma mensagem que causou tanto impacto. Após enviar esta mensagem para os três melhores amigos, Carver descobre que eles morreram em um acidente de carro, onde um de seus amigos, o que estava dirigindo, estava respondendo sua mensagem.
Agora Carver está no velório dos amigos e percebe que muitas pessoas o culpam por este acidente que tirou a vida de três jovens. E, não só isso, Carver também sente, de alguma forma, esta culpa. Mas, para piorar, Carver tem seu primeiro ataque de pânico e logo em seguida, descobre que o poderoso juiz, pai de um dos amigos, está querendo abrir uma investigação criminal contra ele. É tudo de uma vez, como uma avalanche sem fim que está desmoronando em cima dele. 
Com a culpa, o medo e o luto, Carver passa a frequentar um terapeuta e também acaba recebendo o apoio de Jesmyn, namorada de Eli, seu amigo, mas quando pensou que nada mais pudesse acrescentar nesta sua trajetória, a avó de Blake, pede para Carver realizar com ela, um dia de despedida para seu neto e após isto, as outras famílias vão querer ter este dia também. No entanto, no meio dos dias de despedidas, Carver sente o peso do luto, da culpa, do pânico e do medo e o pior, ele ainda pode parar na prisão. 
Existem livros que vemos nas estantes e pensamos: esse deve ser bom e então o pegamos e, ao ler o primeiro capítulo, percebemos que ele pode ter uma história interessante mesmo, portanto, continuamos a ler e, a cada página e a cada capítulo é uma experiência tão maravilhosa que nos perguntamos: Como não li isto antes? Bom, Dias de Despedida é exatamente assim. É um livro bom do início ao fim, que está em uma constante crescente, deixando-nos ainda mais apaixonado pela literatura.
"E uma tristeza brutal, disforme, enlouquecida no absurdo dos sonhos. Você acorda e não lembra a razão de estar chorando. Ou lembra e estava chorando porque recebeu uma chance de se redimir. Então, quando percebe que era apenas um pesadelo, continua chorando porque sua chance de redenção é mais uma coisa que você perdeu. E você está cansado de perder coisas."
Dias de Despedida realmente nos entrega um protagonista intenso e verdadeiro. Os sentimentos e as emoções de Carver são tão palpáveis que já, logo no início, o leitor sente a necessidade abraçá-lo e ajudá-lo da forma como for possível. Um adolescente que parece ter passado os últimos anos vivendo feliz ao lado da família e dos amigos, mas então, por causa de uma mensagem, tudo se perde e sua vida desmorona. O contraste que o autor traz do personagem de hoje que está sofrendo, com o das lembranças que era tão feliz, é realmente fascinante e um pouco brutal. Dos últimos livros que li, este é o que proporciona maior desenvolvimento para os personagens, principalmente o protagonista.
"O mundo que dá voltas e o sol que queima não estão nem aí se ficamos ou se vamos embora. Não é nada pessoal."
Este é um livro que realmente dá espaço para outros personagens, desenvolvendo-os. Se eu for falar de cada um deles, detalhadamente, esta resenha não teria fim, no entanto, é impossível falar desta história e não falar deles, porque cada um contribui de forma importante para esta história se tornar tão magnífica quanto é. 
Temos as famílias dos amigos e do próprio Caver e além de conseguir mostrar os contrastes delas, afinal cada família tem seus fardos para carregar, o autor consegue trazer a realidade familiar para a história. Muito importante na história é a Jesmyn, namorada do Eli, que além de nos trazer sobre o passado deste personagens, vai nos dar outras visões para a história e para o próprio protagonista. E, claro que temos outros personagens importantes, mas vamos nos concentrar na irmã de Carver, Georgia e seu terapeuta que são essenciais para a história e se tornaram meus personagens favoritos. A Georgia é a irmã que vai proteger o irmão e que vai lutar por ele, sem pensar duas vezes. O terapeuta é tão real que é difícil falar sobre ele. Não sei se o autor teve a ajuda de um terapeuta ou se frequenta um, mas é impressionante a forma como ele não colocou um terapeuta só para dizer que o protagonista está fazendo terapia, mas sim para ajudar o protagonista e as cenas dele – que são as minhas favoritas – são realmente intensas e verdadeiras.
"Fico pensando se, em algum lugar no universo, ainda existe uma reverberação de mim e do Blake sentados nesta sala, chorando de rir. Talvez ela se quebre em alguma margem na vastidão do céu. Talvez desapareça.
Ou talvez continue viajando pela eternidade."
E claro, temos os três amigos – Blake, Eli e Mars – que juntos com Carver, vão se tornar a Trupe de Molho. Mesmo que estejam mortos e que só os conhecemos por lembranças, o escritor consegue nos tornar íntimos deles. E o melhor de tudo é que mesmo que eles tenham morrido, o autor não cria personagens que de alguma forma desejavam isso. 
É muito comum vermos em livros que jovens morrem que eles estavam sofrendo demais, que estavam lutando contra algo que por um segundo que fosse, os fizesse desejar a morte, mas neste livro o autor não faz isso. Ele mostra outra realidade: Adolescentes felizes podem vir a sofrer acidentes, podem falecer. E, claro, é triste, ainda mais por serem tão jovens, mas fatalidades acontecem. Então, isso faz o leitor se aproximar mais desses personagens e se emocionar com eles, porque eles eram felizes e viveram felizes até aquele último segundo.
"Não sei por quê, mas antes eu adorava chorar nos sonhos – talvez pela libertação do choro selvagem a que a gente não se permite quanto está consciente. Acordar com os olhos úmidos como poças depois de uma tempestade no meio da noite. Mas isso era quando eu chorava sem nenhum motivo específico.
Acho que a culpa não dorme. Ela só corrói."
É óbvio que com personagens tão verdadeiros e desenvolvidos, a história deste livro seria a altura deles. O Jeff Zentner não se propôs a trabalhar com só uma vertente do problema e sim com todas, portanto, o leitor tem tanto conteúdo neste livro, que nem uma linha sequer consegue ser entendiante. Ele poderia falar só sobre a culpa do Carver, mas vai falar sobre a possível prisão, os ataques de pânico, o desenvolvimento das famílias e muitas outras coisas e, isto faz com que o leitor não sinta o peso das 392 páginas porque a leitura fluiu tão fácil que passamos pelos capítulos sem perceber.
"Há vida por toda parte. Pulsando, zunindo. Uma grande roda que gira. Uma luz se apaga aqui, outra a substitui ali. Sempre morrendo. Sempre vivendo. Sobrevivemos até não sobrevivermos mais.
Todos esses fins e começos são a única coisa realmente infinita."
Este é o primeiro livro que leio que fala sobre ataques de pânico e pelo pouco que estudei sobre a doença, é notório a realidade com que o autor trabalha o tema. E com isso, ele mostra também a importância da terapia para as pessoas com traumas, com ataques de pânico e para todos, no geral. Novamente é necessário reforçar a verdade com que o autor trabalha as sessões de terapia no livro, é realmente impactante para o protagonista e para o leitor.
"Um dia escrevi uma mensagem de texto que matou meus três melhores amigos. Agora chamei a sua atenção? Claro, escrevi alguns contos aqui e ali, mas minha obra-prima foi uma mensagem de texto de duas frases que pôs fim a três histórias. Sou o único escritor do mundo que faz histórias desaparecerem através da escrita." 
Para quem já leu o livro, talvez entenda melhor o que vou falar agora, mas é realmente importante ressaltar esta parte: O autor nos traz nesta história personagens e atitudes que talvez sejam fácil de julgar ou até de odiar e, não estou defendo algumas atitudes que acontecem, mas é incrível a forma como a história trabalha o luto de cada personagem, porque todos perderam pessoas importantes, mas cada um vai sentir do seu jeito. Uns vão tentar seguir em frente, outros vão sofrer... uns vão procurar um culpado, outros só vão sentir raiva. Então, sim, quando estiver lendo, lembre-se que cada um deles perdeu uma pessoa importante de alguma forma e que o luto se manifesta de forma diferente para cada um.
"Enquanto o luto é um sentimento mais ativo – um processo de negociação –, a ausência parece o luto com uma dose de aceitação. Se o luto é uma rebentão de ondas, a ausência é uma melancolia, um mar se agitando de maneira suave." 
Sinceramente, mesmo esta resenha ficando maior do que geralmente costuma ser, sei que ao postá-la e lê-la de novo, vou lembrar de algo que não coloquei e que foi importante e especial no livro, mas Dias de Despedida é assim mesmo. É uma história tão completa que sempre lembraremos de algo a mais para falar sobre ela, portanto, não é por uma resenha que vocês conseguiram descobrir o que estas maravilhosas páginas tem para lhe revelar, só quem o ler poderá ter este privilégio.
"Muita gente prefere aceitar uma parcela indevida da culpa por alguma tragédia do que aceitar que não existe ordem nas coisas. O caos é assustador. É assustados uma existência inconstante em que coisas ruins acontecem a pessoas boas sem nenhum motivo lógico." 
Após chegar ao final da história, mostrando como sabe ser verdadeiro com seus personagens, este autor permite que o leitor feche o livro e fique um bom tempo sentindo o impacto que Dias de Despedidas pode causar. Chegando de fininho, te mostrando apenas um pouquinho de tudo o que esta história é, este livro vai te marcar, vai te deixar lembranças e mais que isto, vai te transformar, mostrando que mesmo com as fatalidades da vida, ainda há esperança porque ainda há vida.
"Conto que tenho esperança de que, depois de termos morrido, haja um dia em que um vendaval volte a encher nossas histórias de vida e que elas despertem de seu sono; e que eu escreva a melhor história possível – uma que ecoe no vácuo das eternidades por pelo menos um tempo.
Conto que tenho esperança de rever meus amigo algum dia.
Conto que tenho esperança."

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4 comentários:

  1. Oi, Gabi
    Só não li esse livro ainda porque imaginei outra coisa, que o Carter que tivesse dirigindo e acabasse batendo o carro, mas até que não foi bem isso que pensei, o que me dá outro motivo para começar a obra. Li uma resenha que falou que a obra é meio pesada e dramática demais, mas imagino que falar de luto é complicado, pena que o autor não soube dosar da melhor forma para deixar o livro mais leve. Mesmo assim eu lerei.
    Beijos
    http://www.suddenlythings.com

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  2. Oi, Gabi!

    Confesso que a capa não me chama nem um pouco a atenção, mas essa sinopse, gente do céu! Sua resenha só me deu mais certeza de como o livro é bom e trata de assuntos importantes. Imagino como deve ser complexa a culpa que o protagonista sente.

    xx Carol
    http://caverna-literaria.blogspot.com

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  3. Oi, Gabi

    Que bela resenha, parabéns!!! Confesso que eu tinha zero vezes zero interesse nesse livro, mas sua paixão me tocou profundamente. Primeiro de tudo: como culpá-lo? Como ele iria saber que o amigo responderia ao volante. E mesmo wue ele soubesse, como ele saberia que o acidente ia acontecer?
    Segundo, gostei dessa abordagem diversa sobre o luto, realmente cada pessoa reage de uma maneira e acho muito bom ter essa diferenciada.
    Outra coisa que chamou bastante minha atenção foi essa interação com o terapeuta, que bom que foi tão real.
    Enfim, quero mesmo ler, vocês me convenceu!


    Beijos
    - Tami
    https://www.meuepilogo.com

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  4. Oi, Gabi. Tudo bem?

    Sou do tipo que julga o livro pela capa ‘-‘ dificilmente leria essa história, mas depois dessa resenha já vou colocá-lo na minha lista. Muito bem escrita suas considerações, ta de parabéns!

    Ahhh, eu respondi a #tag50% em relação às leituras do primeiro semestre, vem conferir e fica a vontade para responder também.
    Bjão

    lidiiadias.blogspot.com

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