Entrevista com Karine Aragão, autora de A Teia dos Sonhos

em 5 de junho de 2017

Foto da Telma Castilho
Karine, você escreveu uma história que trás um assunto do qual a sociedade precisa debater e buscar saber mais, que é a depressão e o suicídio entre adolescentes. Desde o princípio você quis escrever algo que trouxesse esse tema ou não, foi algo que veio em sua mente e aí você percebeu que tinha uma ótima história para escrever? 
Eu já tinha em mente que queria escrever sobre temas tabus, que surgiam em conversas com amigos, com minhas irmãs. Aqueles assuntos que despertam tantas dúvidas e reflexões na gente. Alguns preferem deixar de lado, por preguiça, por medo... Eu acredito que eles precisam vir à tona. Afinal, somente com diálogo, podem ser pensados e esclarecidos. Quando assisti a uma palestra do jornalista André Trigueiro sobre a questão da “saúde mental adolescente”, eu disse: “Pronto, achei  meu tema! É sobre isso que eu quero falar. Sobre as dores que podem se esconder atrás de um falso olhar alegre”. 

Você acha que ao lermos só a sinopse de A Teia dos Sonhos podemos ter primeiras impressões erradas dele? Podemos menosprezar a história? O que quero dizer é que no início parece termos uma garota que simplesmente escolhe acabar com a própria vida por causa de um garoto, mas quando lemos o livro ele tem muito mais a oferecer e abrange o tema com delicadeza e muito mais propriedade. Então, de alguma forma, você acha que podem ter uma ideia errada sobre o seu livro e imaginar que ele não tem muito a oferecer, quando na verdade é maravilhoso? 
Pra falar a verdade, nunca havia pensado sobre isso... Mas, talvez, creio que a primeira impressão possa ser essa sim. Tive muito cuidado com a forma de divulgação, não queria levantar a bandeira “um livro sobre suicídio”, porque o livro é muito mais que isso. Nesse triângulo amoroso, existem conflitos existenciais em relação às três partes, que abrangem até a família deles. 
No início da leitura eu acreditei que a história seria bem parecida com a de Eu Estive Aqui, da Gayle Forman, porém você desenvolve de uma forma diferente, mas tão bem quanto e as duas trazem o mesmo tema tendo como protagonista a melhor amiga. Eu achei isso fascinante e nem sei se você conhece o livro da Gayle, mas parei para pensar e queria saber se você se inspira em alguém? Ou se inspirou em alguma obra ou escritor(a) específico para escrever A Teia dos Sonhos? 
Eu conheci a Gayle depois de escrever “A Teia dos Sonhos”, por indicação de um leitor. Também achei a semelhança impressionante. Conseguimos partir de um ponto com elementos comuns, mas traçamos caminhos diferentes. Gosto muito de uma literatura intimista, reflexiva, por isso, minha leitura de inspiração é a obra de Clarice Lispector. Mas também vibro ao acompanhar o universo adolescente com John Green e Nicholas Sparks. 
Você em algum momento achou que o seu livro não seria bem recebido pelos leitores por trazer assuntos tão fortes para ser discutido e que ainda geram muitas divergências?  
Com certeza! No dia do primeiro lançamento, achei que só haveria amigos e família... rs. E, ainda hoje, às vezes, encontro certa resistência. Mas tenho esperança de que as pessoas perceberão o quão importante é debater esses assuntos. 
Eu, como leitora, tenho algo específico que me fez amar o livro e mais ainda uma personagem em específico e isso me fez sofrer. O que quero dizer é que no início já temos o suicídio de Laura, e você não se prolonga nas lembranças de Júlia com a amiga para aproximar o leitor de uma personagem morta, mesmo assim, acho impossível não amar a Laura. Você criou essa distância do leitor para com personagem que comete tal ato de propósito ou simplesmente aconteceu por termos a narração do ponto vista da Júlia?  
Antes de começar, não pensei estritamente. Muitas vezes, o livro foi caminhando sozinho. Quando terminei, também tive essa impressão. O livro traz a visão de Júlia sobre Laura. Os sentimentos de Laura, na verdade, não se revelam. Laura está ainda aqui, comigo, esperando o próximo livro. 
Você trouxe duas personagens muito fortes e que trazem a questão de que uma não teve esperança do dia de amanhã ser melhor e simplesmente não aguentou, enquanto a outra em certo momento acaba até pensando desta forma, entretanto, em meios aos problemas, ainda consegue encontrar forças e esperança de que o amanhã será melhor e que há motivos para viver. Sempre foi sua intenção criar esses dois lados de adolescentes com problemas e que sentem uma dor enorme e acabam não sabendo o que fazer, mas que tem uma visão diferente de tudo isso? 
Sim, essa questão foi uma das poucas que ficou certa em minha cabeça antes da escrita ser iniciada. Eu queria que Júlia e Laura tivessem as afinidades necessárias para serem grandes amigas, mas que percorressem caminhos opostos diante da vida, diante das possibilidades inúmeras quando se deparassem com os problemas do dia a dia. 

Ao mesmo tempo em que temos uma personagem que comete suicídio, você trás com delicadeza e realidade o sofrimento dos personagens ao redor da Laura. Você teve alguma dificuldade para desenvolver a história destes personagens a partir do momento em que a Laura se suicida? 
Sim! Escrever as partes em que a própria Júlia fala de sua saudade foi bem difícil. Eu sentia junto com ela... Trazer o sofrimento da mão de Laura também foi angustiante, mas necessário... Escritor e Personagem se misturam nessas horas... 
A Júlia se envolver com Bernardo depois de tudo e ele ser de alguma forma uma ajuda para ela sempre foi o que você queria? Porque para leitoras como eu, não consegui gostar deste personagem e não que eu o culpe pelo o que aconteceu, porém, a Júlia se envolver com ele trás o conflito de que de alguma forma ele é um dos motivos do que aconteceu, porém, ao mesmo tempo temos o significado de que a Júlia merece continuar sua vida e ser feliz. Então, trazer esse conflito foi algo do que você desejava para a história desde o início? 
Foi sim! Porque foi um conflito que permaneceu em minha cabeça durante toda a escrita. Na verdade, permanece até agora. Essa é uma daquelas situações em que podemos enxergar a história por vários pontos de vista, tentando encontrar quem estaria certo ou errado. Acho que todos os dias passamos por questões assim: ficamos entre o que queremos e o que podemos ou devemos fazer, entre pensar somente em nós mesmos ou nos importamos em magoar os outros... 
Também temos dois lados de ser mãe e do que enfrentar pelo ou por causa do seu filho em A Teia dos Sonhos. Júlia viu sua família se acabar, enquanto a Laura tinha a melhor mãe do mundo e mesmo assim não encontrou motivos para viver. Foi muito complicado trazer a diferença entre essas duas mães, mesmo depois do suicídio da Laura, porque uma tenta melhorar como mãe, enquanto a outra entra em uma depressão profunda? 
Assim como as filhas, as mães também percorrem caminhos diferentes. Para criá-las, fiquei um tempo observando as tantas “mães” que passam pela minha vida. Imaginando como cada uma reagiria. Fui juntando um pouquinho de cada uma. 
  
Você teve alguma dificuldade para escrever o livro no sentido da escrita? Porque você trouxe temas fortes com uma escrita leve e jovem que é bem fascinante, porém, pode ser complicado no momento de escrever. 
Confesso que fiz uma primeira versão na minha linguagem natural, um pouco mais formal, sem me regular muito para não perder a inspiração. Depois de o livro estar finalizado, fui readaptando a escrita, trazendo o vigor de um linguajar mais jovem e descontraído. 
A Teia dos Sonhos sem dúvida é um livro que pais e filhos deveriam ler porque ele é muito importante para a sociedade em um todo e acredito, sinceramente, que todos deveriam tê-lo na estante, por isso gostaria de saber se você tem noção da importância do seu livro para as outras pessoas? 
Fico muito feliz diante de uma pergunta como essa! Apesar da boa repercussão do livro, eu ainda falo sobre ele com certa timidez, ainda me surpreendo com seu alcance. 
Existe alguma possibilidade de A Teia dos Sonhos ter uma continuação? Se sim, você tem alguma data prevista para lançar esta continuação? E o que poderíamos esperar desta possível segundo livro? 
Certamente terá! E será um livro narrado por Laura. Ele deve sair no final desse ano ou início de 2018. Estamos em negociação sobre as datas. Espero que seja logo! 
Para encerrar, gostaria de pedir para você deixar um recado para os leitores do seu livro que se tornaram, assim como eu, seus fãs. 
Cada um de vocês me faz acreditar cada vez mais que a literatura é meu lugar no mundo, o que dá sentido à minha vida! Escrever uma história que possa alcançar um coração é motivo pra viver com sorriso de orelha a orelha. Todo carinho recebido é e sempre será recíproco! 

18 comentários:

  1. Olá,
    Que ótima sua entrevista e amei conhecer a autora e o livro.
    Gosto da temática da saúde mental, ainda mais adolescente, fico imagino como o emocional dela deve ter ficado, após escrever algo tão forte. Espero ler assim que der. Sucesso!

    tenha uma ótima terça :D
    Nana - Canto Cultzíneo

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  2. Adorei a entrevista. Fiquei interessada nesse livro só por causa do tema.

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  3. Adorei a entrevista. Fiquei interessada nesse livro só por causa do tema.

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  4. Oi, sua linda, tudo bem?
    Nossa, suas perguntas me levaram para dentro da história. É visível como você conhece os personagens e como ficou impactada pelo o que aconteceu a eles. Eu acho incrível como esse assunto está finalmente sendo discutido largamente na literatura ultimamente. É uma realidade grave, que precisa ser vencida. Por isso a autora está de parabéns!!!! Adorei a entrevista e não vejo a hora de ler!!!!!!
    beijinhos.
    cila.
    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/

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  5. Nossa que legal! Amei a intrevista ainda não tinha ouvido falar do livro! Pela intrevista adorei, suicídio e sempre tachado como "a pessoa é burra em tirar a vida" ou " mente fraca" mas sabemos que decepção, rejeição levam as pessoas ao desespero. 😘
    aleituramagica.wordpress.com

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  6. Oiee! Que bacana a entrevista eu gostei muito das perguntas, achei bem inteligente e não tão óbvias! Parabéns! Não li A Teia dos Sonhos mas gostei de saber do tema dele!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  7. Oi Ga. Eu amei a forma como levou a entrevista. Foi como ler uma resenha com complementos da autora. Me interessei demais pelo livro. A história parece forte, de impacto. Não gosto do tema, confesso, mas como disse, precisamos falar sobre isso.
    Trabalho incrível nesse post. Sempre me surpreende. Linda!
    Um beijo
    Resenhando por Marina

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  8. Gente, eu sou apaixonada por essa capa. Essa tatuagem de apanhador de sonhos linda demais!
    Eu tinha uma vaga ideia do que se tratava o livro e com a entrevista fiquei com mais vontade de conferir essa história.
    Beijos
    Balaio de Babados
    Sorteio Dois Anos de Família Hallinson
    Sorteio Três Anos do blog A Colecionadora de Histórias

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  9. Olá, tudo bem? Ahhh, que demais essa entrevista! Adorei conhecer melhor a autora e sua obra... Sou doida para ler esse livro, a capa é demais.

    Beijos,
    Duas Livreiras

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  10. Nossa, que entrevista incrível! Eu li sua resenha do livro e fiquei bem curiosa para lê-lo. Gosto de livros que tratam desse tema, mas fiquei ainda mais curiosa depois de ler essa entrevista maravilhosa com a autora. Parabéns, as suas perguntas ficaram incríveis e essa entrevista só me fez ficar mais curiosa para conhecer o livro ^^
    Beijos :*

    Me Cativastes

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  11. Olá,
    Muito boa a sua entrevista. O tema do livro é de suma importância e gostei das perguntas que você abordou com a autora. Mesmo sem ter lido o livro deu para ter uma ideia muito boa de tudo o que foi falado na história.

    Prefácio

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  12. Oie
    Não conhecia a autora, adorei conhecer mais sobre ela e sua obra.

    Beijinhos
    http://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br/

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  13. Oiê, tudo bem?
    Não conhecia a autora e nem o livro. Gostei muito da capa... achei significativa e instigante... Adorei as tuas perguntas, foi uma entrevista bem elaborada com respostas curtas, mas sinceras... Gostei de conhecer um pouco a autora e o que a levou a escrever o livro. Esse tema ainda é um tabu, mas aos poucos, vamos melhorando e ajudando as pessoas a não fazerem isso. xero!

    http://minhasescriturasdih.blogspot.com.br/

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  14. Oioi bonita!

    Que autora simpática, adorei conhecer mais sobre ela. Já tinha visto sobre o livro antes e já li varias resenhas, parece ser muito interessante.

    Amei a entrevista, a perguntas foram ótimas!

    Beijão,
    www.cretinaliteraria.com

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  15. Oooi!

    Não conhecia a autora :O Menina, é sempre MUITO bom ler entrevistas as quais os autores falam de seus livros e seus processos de produção, motivações, incentivos... Principalmente para nós que escrevemos! Sucesso para a autora sempre! Beijos,

    www.estranhoscomoeu.com

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  16. Oi
    nem conhecia a autora e o livro, e interessante esses temas que ela traz em seus livros, é algo que está muito presente na sociedade, mas muitos evitam falar.

    momentocrivelli.blogspot.com.br

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  17. Olá,
    Não conhecia a obra, nem a autora, mas achei sensacional o fato dela abordar temas complexos, precisamos aprender a falar sobre os temas difíceis para conseguirmos ajudar quem precisa.
    Adorei conhecê-la!
    Beijos
    https://estante-da-ale.blogspot.com.br/

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  18. Oi!!
    Adorei a entrevista! O livro parece ser muito interessante, fiquei curiosa por ela abordar temas tão complicados como esses.

    Beijos,
    Sora | Meu Jardim de Livros

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