RESENHA | A Guerra Que Salvou A Minha Vida - Kimberly Brubaker Bradley

em 3 de março de 2018

Livro: A Guerra Que Salvou A Minha Vida
Autora: Kimberly Brubaker Bradley
Editora: DarkSide
Páginas: 240
Ada tem dez anos (ao menos é o que ela acha). A menina nunca saiu de casa, para não envergonhar a mãe na frente dos outros. Da janela, vê o irmão brincar, correr, pular - coisas que qualquer criança sabe fazer. Qualquer criança que não tenha nascido com um "pé torto" como o seu. Trancada num apartamento, Ada cuida da casa e do irmão sozinha, além de ter que escapar dos maus-tratos diários que sofre da mãe. Ainda bem que há uma guerra se aproximando. Os possíveis bombardeios de Hitler são a oportunidade perfeita para Ada e o caçula Jamie deixarem Londres e partirem para o interior, em busca de uma vida melhor. 
Ada não sabe ler. Não sabe escrever. Não sabe sua idade. Não sabe o dia em que nasceu. Porém, Ada sabe que está condenada a viver trancafiada dentro de sua casa porque é uma vergonha para sua mãe que a filha tenha o pé torto.
Ada cresceu dentro de casa, sem nunca poder sair e sofre a cada dia nas mãos da mãe que faz questão de jogar na cara da filha o quão nojento e vergonho é sua deficiência. Sua mãe a machuca, a tranca dentro do armário, mas, mesmo assim, Ada que não entende muita coisa, tenta justificar as ações da mãe, afinal, se ela não tivesse nenhuma deficiência, a mãe poderia amá-la.
No entanto, com a Guerra se aproximando e com os possíveis ataques de Hitler, Ada vai com seu irmão mais novo para o interior, para ficar longe de Hitler e talvez ter uma melhor condição de vida, só que a verdade é que a Guerra da qual está se livrando não é a de Hitler e sim a de sua mãe.
No interior, após todas as famílias os rejeitarem, Ada e Jamie vão morar com Susan, uma mulher solteira que vive sozinha desde o falecimento da melhor amiga. É uma situação nova e diferente para ambos, contudo, mesmo que cada um tenha criado uma barreira em volta de si mesmo, a presença de sentimentos e ações tão simples como o cuidado e o amor farão com que ambos enxerguem mais oportunidades, enxerguem mais esperança para suas próprias vidas. Porém, nada é tão simples e mesmo que tenham fugido de Hitler, ele está se aproximando e pior, a mãe deles também.
Depois de muita expectativa, escrever esta resenha é muito difícil porque descrever este livro em uma postagem é extremamente complicado e tenho consciência de que, independente do que eu escrever, nada chegará a um terço de tudo o que A guerra que salvou a minha vida é. O que já posso começar afirmando é: Leiam Este Livro.
"No fim das contas, foi a combinação das duas guerras – o fim da minha pequena guerra contra o Jamie e o início da grande guerra, a do Hitler – que me libertou."
Ada é uma das melhores protagonistas que conheci durante as minhas últimas leituras. É forte, mesmo sem saber disso. É sentimental, mesmo que não admita. É humana, mesmo que não se permita. Uma criança que foi rechaçada pela sua própria mãe durante toda a sua vida. Uma criança que não foi permitida ser criança. Que não pode conviver com os outros porque sua mãe tem vergonha dela. Uma criança, essa é a questão toda. É somente uma menina que vê a vida passar pela janela, enquanto mesmo sem perceber, sofre nas mãos da pessoa que mais deveria amá-la.
A autora consegue nos entregar todas as vertentes dessa protagonista e nos faz sentir na pele o que ela está sentindo, provocando dor e tristeza no leitor, mas, provocando também uma vontade de lutar pela justiça, pela verdade e pelo mundo maravilhoso que Ada merece. Com isso, o leitor consegue acompanhar todas as emoções da protagonista.
"Por que eu choraria? Nunca tinha chorado. No entanto, quando me desvencilhei da srta. Smith, lágrimas brotaram nos meus olhos e correram pelo meu rosto. Por que estava chorando? Queria socar algumas coisa, atirar algo no chão, gritar. Queria galopar com o Manteiga e nunca mais parar. Queria correr, mas não podia, não com o meu pé torto, feio, horrível. Enterrei a cabeça numa das almofadas chiques do sofá e não pude evitar. Chorei.
Estava tão cansada de viver sozinha."
A história nos traz vários personagens e todos tem a sua importância e são verdadeiros e isso é um dos pontos fortes do livro, porém, não vou entrar muito em cada personagem porque é interessante ler no contexto da história o que cada um tem a nos oferecer.
Jamie é o irmão mais novo de Ada e mesmo que seja tratado de uma forma melhor que a Ada pela mãe, também sofre e isso o leitor vai descobrindo ao decorrer da história. É um personagem mais infantil, então temos um lado dele que não pensa para falar e mesmo que faça ou fale alguma coisa errada, o leitor consegue entender seu lado ainda criança ao decorrer da história.
Srta. Smith ou melhor, a Susan, é a personagem mais importante da história porque é com ela que veremos Ada tendo uma chance de ser realmente feliz. Uma senhora solteira porque não quis se casar, já mostra-se empoderada e entendemos mais de sua história ao decorrer, no entanto, é maravilhoso ver o quão bem desenvolvida é a personagem que consegue acolher aquelas crianças e ser uma pessoa que pode amá-las, mesmo que isso nunca estivesse em seus planos.
"Tinha mais do que precisava. Na verdade, mais do que me deixava confortável. Eu ainda era a menina no espelho da estação de trem, a menina idiota trancafiada atrás da janela. A retardada. Usar os refugos da Maggie estava de bom tamanho, mas eu tinha consciência dos meus limites."
Falei sobre os personagens, porém, não só eles, mas toda a história em si é tão bem desenvolvida que a autora consegue nos mostrar uma verdade talvez cruel, mas real em cada uma das linhas deste livro. Não era só ter um lar bom, com roupas boas e comida quentinha que tudo se tornaria belo e perfeito, até porque Ada tem suas cicatrizes, externas e internas. Ela tem seus fantamas que ainda a fazem esconder seu pé, mesmo sabendo que não é culpa sua, pois sua mãe poderia ter deixado os médicos o operarem quando nasceu. E é realmente maravilhoso ver como a autora vai trabalhando cada uma dessas cicatrizes, fazendo o leitor sorrir ao ver Ada feliz galopando em seu pônei.
"Mas olhá-lo aninhado no colo da srta. Smith me dava vontade de gritar. Ninguém fazia aquilo por mim.
Então a srta. Smith deu uma batidinha no espaço ao lado dela.
"Sente aqui. Sério, Ada. Sente.'
Então ela me abraçou e me puxou para perto.
Ela fez isso." 
Eu não conhecia esta autora, este é o primeiro livro que estou lendo dela e ainda estou maravilhada com a magnífica escrita dela. É surreal a forma como esta escritora consegue levar o leitor para sua narrativa, não deixando-o pensar em outra coisa, a não ser nesta história.
Ela foi sensível em trazer a história, mesmo conseguindo mostrar a realidade dela e o quão triste ela pode ser. A forma como ela vai trabalhando cada passo da história é realmente fascinante. Mesmo mostrando a tristeza da 2ª Guerra Mundial, ela nos mostra a felicidade de Ada em estar sentido-se amada pela primeira vez. É muito maravilhoso o contraste que ela consegue trazer para cada lado da história, qualquer leitor se apaixona facilmente pela escrita e a narrativa da autora.
"Eu me sentia uma impostora. Era pior que tentar falar igual à Maggie. Aqui estava eu, vestida igual à Maggie. Feito uma menina radiante de fita no cabelo. Feito uma menina amada pela família."
Eu nunca falo das edições dos livro, porém, preciso falar deste porque é realmente maravilhoso. A editora, DarkSide, não se poupou em detalhes que tornam a edição do livro realmente apaixonante. A edição nos permite sentir ainda mais a história, como se estivéssemos verdadeiramente nela.

A guerra que salvou a minha vida se tornou um dos meus livros favoritos e provavelmente é o melhor que li neste ano, mesmo já tendo lido muita coisa boa. Os personagens, o enredo, a narrativa, a escrita e o desenvolvimento de cada detalhe tornam esta história épica, emocionante e apaixonante. É incrível como a autora conseguiu criar algo tão verdadeiro ao ponto de realmente mexer com os sentimentos e as emoções de cada leitor.
"'Se você estiver com muita raiva, vá lá fora e destrua qualquer coisa.'
Eu não sentia raiva. Sentia tristeza. A tristeza era tanta que eu me perdia nela."
Brilhante, emocionante, apaixonante, magnífico e muitos outros adjetivos são só um pedacinho do que A Guerra Que Salvou A Minha Vida verdadeiramente é e não existe resenha, post e nem palavras que podem mostrar isto à vocês. Na verdade, existem palavras que podem fazer isto e elas estão nas páginas deste livro que cada um de vocês deveriam ler e se apaixonarem também.
"Dali em diante, eu me dividiria em "antes de Dunquerque" e "depois de Dunquerque". A ada "depois de Dunquerque" era mais forte e tinha menos medo. Foi horrível, mas eu não desisti. Eu persisti. E venci a batalha." 
Adquira

14 comentários:

  1. Oi, Gabi
    Eu quero muito ler esse livro justamente por ser um livro que fala totalmente da guerra, apesar de título, e sim sobre os medos e anseios de uma criança que teve tão pouco da mãe. Acho que a Ada é um exemplo de pessoa, tenho certeza que a emoção que ela passa pro leitor é maravilhosa e por isso me sinto cativada a ler o livro, mas infelizmente ainda não pude comprá-lo. Quem sabe um dia!
    Beijos
    http://www.suddenlythings.com

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    1. Oi, Miriã.
      Espero que você consiga ler este livro porque ele é realmente tudo isso e um pouco mais. Ada é sim um verdadeiro exemplo de pessoa e amá-la é só consequência de tudo o que o livro é.

      Beijos.

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  2. Oi! Eu tenho ouvido TANTAS pessoas falando bem desse livro. Eu curto bastante histórias que tem relações com guerras e essa parece ser aquelas incríveis que vão me fazer chorar horrores, rs. Espero que eu tenha a oportunidade de lê-la em breve, obrigada por essa resenha! Os Delírios Literários de Lex

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    1. Todas essas pessoas que você ouviu falando bem do livro estão corretíssimas porque é verdadeiramente maravilhoso.
      Provavelmente você vai chorar sim! Espero que possa lê-lo.

      Beijos.

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  3. Oie
    Eu amei ler este livro e já estou doida para ler a continuação que vai ser lançada agora. A edição está linda.

    Beijinhos
    https://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br/

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    1. Oi!
      Eu também amei ler o livro e estou super ansiosa para a continuação!

      Beijos.

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  4. Oi Gabi!

    Nossa, eu já fiquei comovida lendo a sinopse, imagina o livro.
    Para ser sincera fiquei um pouco receosa em relação a ele quando li a sinopse, mas depois de tantos elogios na tua resenha e super indicação para a leitura, vou colocar na minha lista de desejados, com certeza.

    Beijos
    http://espiraldelivros.blogspot.com/

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    1. Oi!
      Lendo o livro você ficará ainda mais emocionada, pode ter certeza.
      Não fique receosa, coloque ele sim na sua lista de leitura porque ele é maravilhoso.

      Beijos.

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  5. Olá, Gabi.
    A editora capricha muito nas edições. Eu quero ler esse livro desde que lançou, mas ainda não consegui comprar. Eu já amo livros cujos personagens principais são crianças, imagine em uma história assim então. Já sei que vou amar hehe.

    Prefácio

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    1. Oi, Sil.
      A editora realmente caprichou. Quando os personagens são crianças, as histórias são realmente maravilhosas, não é? Espero que consiga lê-lo.
      Beijos.

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  6. Oi Gabi!! Eu amo esse livro, super tenho receio de obras muito dramáticas, mas a autora soube conduzir muito bem a trama e já quero ler a continuação!! E a Darkside arrasa na edição <3

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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    1. Qualquer um ama este livro, não é, Mi? Mesmo com qualquer receio, ele se supera. Também estou super ansiosa para a continuação.

      Beijos.

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  7. Oi! Eu nunca li esse livro, mas ano passado vi uma resenha que me deixou louca atrás dele. Ainda não consegui comprar, e essa postagem foi tipo uma lembrança de que preciso adquirir ele logo haha <3

    Beijo!
    www.controversos.com

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    1. Fico feliz que o post tenha te feito lembrar de adquirir ele porque é um livro verdadeiramente maravilhoso.

      Beijos.

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