Resenha | Alice – Letícia Pinho

Livro: Alice

Autora: Letícia Pinho

Editora: Multifoco

Páginas: 406

Alice Holloway conheceu Max Rossi quando era pequena, em um tempo em que ir para a escola era um perigo para seu lado emocional, graças aos seus óculos fundo de garrafa e seu aparelho horrível. O garoto foi um anjo da guarda para ela, mas a vida de Max sofre uma reviravolta e ele abandona a escola por um tempo. Quando volta, Alice está com uma aparência totalmente diferente; ele parece não reconhecê-la. Então, aquele garoto fofo vira um garoto popular, namorado de Juliet Campbell e tudo vai por água abaixo. Mas o destino dá voltas, ah, ele dá sim, e os dois voltam a ser grandes amigos, mas não é o que Alice quer, decidida a não se machucar, ela se afasta dele, sem saber que as feridas já haviam sido criadas. É quando o garoto novo entra no colégio, Lyen Evans, pronto para consolá-la, e quem sabe roubar seu coração. E assim, a vida de Alice vira de cabeça para baixo.

Começamos com Alice indo para um passeio ao cemitério com seus amigos, mesmo que ela não queira. E ela não quer não é porque é um cemitério e pode ter medo ou algo assim, ela não quer participar desse passeio com seus amigos, assim como todos os outros porque todos eles estão namorando e ela acaba sendo a única sozinha no grupo, a única sem namorado, a única sem um amor. Sem uma paixão. Porém, ao contrário do que Alice pensou, esse passeio pode ter seus pontos positivos, pelo menos aparentemente. É nesse passeio que ela reencontra Max, ou assim dizendo, ele a reencontra, porque Alice o vê todos os dias e ele parece não enxergá-la. 
Conversando com Max, o garoto por quem sempre foi apaixonada, mas que hoje é um dos alunos mais populares e namora a garota mais popular do colégio, Alice e ele vão voltando a reatar e construir a amizade que tinham anos atrás, na época em que ele defendia ela e para ela, ele era seu herói.
Alice entra de cabeça nessa amizade e claro, seu amor por Max está vivo dentro de si, e conforme a amizade deles vai crescendo e ela vê que de alguma forma é importante na vida dele, ela começa a criar esperança de que ele terminará com a namorada chata e popular, Juliet, e ficará com ela, declarando todo o seu amor. Entretanto, nem tudo são flores e logo a realidade, digamos assim, cai sobre Alice e ela  pertence que Max só a vê como a melhor amiga e que mesmo sendo uma "vaca" ele ama Juliet. Alice percebe também que se continuar com essa amizade e com a esperança de que um dia ela a ame, só irá se machucar ainda mais. Ela precisava se afastar. Precisava acabar com a amizade deles. Precisava acabar com a esperança que seu coração insistia em ter. E foi isso que ela fez.
Fazer tudo isso a machucava demais e cada vez parecia ser mais doloroso, porém, um dia, um garoto novo pergunta se pode sentar-se ao lado dela e ela responde que sim. E, pela primeira vez, era possível que outro garoto fizesse o coração dela bater mais rápido. Era possível que esquecesse Max. Era possível ser feliz. Era possível com Lyen.
Mas, mais uma vez, quando está em um relacionamento estável, feliz e apaixonante com Lyen, nem tudo é maravilhoso, Max e seus amigos a agridem verbalmente e até fisicamente e ela não consegue entender, como o garoto com quem teve uma amizade maravilhosa era capaz daquilo, e pior, como alguém por quem o coração dela ainda batia forte podia ser capaz daquilo. Era isso, ela ainda gostava de Max, mas agora, gostava de Lyen também.

Sabe aqueles filmes americanos para adolescentes que acontece de tudo? Tem intriga, mistério, amizade e muito romance? Bom, Alice é um livro assim. Contando a história de uma adolescente e sendo uma história para jovens, esse livro te leva para um mundo adolescente muito parecido e muito diferente dos adolescentes. Parecido porque são sentimentos, momentos e um mundo muito real aos dos adolescentes, porém, é diferente, porque como nos filmes, acontece de tudo que se possa imaginar com esse grupo de adolescente, e necessariamente isso não acontece com todos os adolescentes. São situações reais e que acontecem a todo momento, mas não necessariamente com a mesma pessoa ou um determinado grupo.
Alice, é um romance que é gostoso de ler porque te tira daqueles romances muito dramáticos, mas não deixa de ter uma dramatização, o que é muito bom para manter um equilíbrio na história. Alice, título do livro é o nome da protagonista e eu tive muito medo de que a história, seus temas e tudo só envolvesse a protagonista, e maravilhosamente bem, a escritora não fez isso. Ela deu história para os personagens secundários. É claro que sendo a Alice narrando a história era óbvio que tudo  se desenvolvesse em volta dela, com alguma ligação, e essa ligação foi feita através da amizade e isso é um dos pontos mais fantásticos da história. 

"A vida não para quando sentimos dor, ódio ou rancor, ela continua em frente, e se quisermos viver, temos que segui-la junto, na mesma velocidade."

Essa história tem muitos personagens importantes, os coadjuvantes dão sentido a história, dão alegria, mistério, drama e sem eles, Alice não seria o que é. Alice é uma protagonista que está se desenvolvendo, está amadurecendo e infelizmente a vida vai lhe ensinar muitas coisas de uma forma dura e ela precisa ser forte para superar. Lyen, é fofo, romântico, simpático, amigo, amoroso... apaixonante. Tem uma parte da vida muito triste que envolve sua mãe, mas mesmo assim está sempre pensando no melhor para os outros e em fazer feliz quem ele ama. São muitos personagens secundários e sinceramente, eu amo todos, Kim, Amanda, Janel, Gabriel, Kevin, Erick, Noah, Alyson e Lauren... são todos maravilhosos. Muito bem desenvolvidos, cada um com a sua história, os seus problemas. A escritora não focou só nos protagonistas e não colocou os secundários só como enfeites e isso acontece em muitos livros, mas em Alice  isso não aconteceu, de forma alguma, os personagens coadjuvantes tiveram o devido o valor. 

"E hoje, eu não tive esperanças, mas tive certeza de que ele me amava, e tudo isso fez eu me destruir completamente por dentro."

Bom, deixei Max para falar separadamente porque ele é o motivo desse livro me transmitir tanas sensações e isso foi um motivo fantástico para eu gostar do livro, afinal essa é a função das histórias, ela precisa passar sensações, sentimentos. Com todos os personagens a autora conseguiu fazer isso, mas com Max foi surreal... eu odeio esse personagem. Isso não é uma crítica negativa, muito pelo contrário, amo quando sinto algo, não importa o que seja. Max é muito bem construído, muito bem desenvolvido, eu entendo a necessidade e a importância dele, e o conflito que a autora trás para a protagonista passou para mim, só que eu amo o Lyen, e Max, de alguma forma estar no caminho me fazia odiá-lo.
Juro para vocês, o motivo de eu mais amar essa história é esses sentimentos reais que cresceram em mim. Eu amo um, odeio outro, quero abraçar um e bater no outro. Isso aconteceu com todos os personagens e é fascinante. É muito difícil um autor me ganhar totalmente em relação aos personagens, sem nenhuma crítica real sobre eles e nesse, eu não tenho. Os personagens são maravilhosos e a Letícia me fez ter emoções tão fortes que foi incrível.

"Não devia de jeito nenhum ter ido longe demais nesse jogo. Quanto mais longo é o jogo, maior é a queda do perdedor."

Alice é sem dúvida um romance, que envolve muito temas e acontece coisas que você fica: "Como? Estou lendo errado?". Letícia é aquelas autoras maravilhosamente cruéis que te deixam pensar que está tudo normal, tudo bem e do nada, tudo acontece. Ela matou dois personagens (não vou dizer quais) que eu amava e fiquei em choque porque não esperava de forma alguma por isso.
Eu acho que o livro tem muitos detalhes, digamos que desnecessário, principalmente no começo. Um parágrafo sobre ela se levantar para ir para escola, e talvez se não tiver tão interessado na leitura isso desanime o leitor, mas ao decorrer da narrativa é notável que isso melhorou muito e chega em momentos com tantos acontecimentos que ficamos cada vez mais entusiasmados, sem querer parar um segundo. 
Mais um ponto importante é o equilibro que a história tem. Não é porque temos um romance, que não temos a amizade. É uma balança muito bem equilibrada. A amizade é sensacional na história, é a parte em que o adolescente se identifica. Um amigo que fala tudo sem pensar duas vezes, ou outro que tem calma e está tentando deixar tudo na paz, um que acaba se perdendo mas que precisa ser "resgatado" pelos amigos, pois é assim que a amizade funciona, um cuidando do outro, independente das diferenças. 

"As vezes minha filha, a verdade está enterrada, e você precisa cavar um bocado para achá-la, e se você desistir, nuca vai saber se tava certa ou não."

O mais surpreendente para mim foi o final e não porque ele me surpreendeu, eu esperava de alguma forma o que poderia acontecer e não gostava, então achei que iria me decepcionar muito. Mesmo não sendo, em uma questão pessoal, o final que eu realmente desejava, a autora me fez chorar porque eu entendi o final e foi fantástico. Não era e não é o que eu desejava e isso vai continuar comigo, mas quando eu fechei o livro não estava decepcionada. Estava naquele momento em que você percebe que a autora fez o que era necessário, fez o que seus personagens realmente precisavam. Fez o que era necessário ser feito para chegar ao fim. 
Alice é um livro aparentemente leve que leva a questões tristes e até trágicas. É um romance que vai te fazer sorrir não importa para quem você torça. É uma história sobre amizades tão verdadeiras que te faz querer estar ao lado do seus melhores amigos. Com temas fortes, a simplicidade das palavras vai te lavando para o mundo dessa protagonista tão cheia de vida. Vai te levando para o mundo de Alice.

"A felicidade nunca vai embora, por mais que estejamos sofrendo, ainda existe a felicidade dentro de nós, só que não percebemos. Nós que deixamos de perceber a felicidade poque nos concentramos demais na tristeza."

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